ImageIsmo é a adesão a um líder, a uma fé, a uma doutrina política, adesão firme e cega, até as últimas conseqüências, mesmo absurdas. Tem muita semelhança com o fanatismo e compromete o bem-estar social, através da perseguição ou intolerância dos seguidores e do abandono do bom senso, dos valores, direitos e deveres do cidadão. É o impulso passional que move o indivíduo, não a razão. Traz a conotação de espírito de seita, alimentado pelo ódio. O "ismo" é uma posição filosófica ou científica que sustenta algo sobre uma idéia, um fato, um sistema, uma política, um programa, uma circunstância etc. É uma idéia central a nortear o adepto perante o mundo ou em face de determinadas coisas. É um método ou conjunto de valores, é um principio ou conjunto de princípios explicativos sobre alguma coisa ou algum fato. É uma filosofia ou um modo de ver o mundo ou determinado problema. Há tantas definições de "ismos'" quase quantos "ismos" há. Cada um tem seu contexto histórico em que surge e se desenvolve. Ocorre, muitas vezes, que, após passar a ser moda ou um sistema de idéias dominante, o "ismo" cai no ostracismo. O "ismo" tem raízes e se desenvolve sempre vinculado a uma filosofia da história ou a uma explicação pragmática do momento. Quase nunca é resultante só de um fato, mas engloba a realidade como um todo cultural. Segundo, além desta característica totalizante, é oportuno lembrar que nem todo "ismo" surge como resposta antagônica ou como guerra a outro ou a qualquer teoria anterior, embora isto tenha ocorrido. Há "ismos" bipolares, opostos, mas são bem menos numerosos que os outros. Há alguns, que derivados de outros, guardam sua essência, mas diferem na aplicação, no programa, na aceitação teórica ou na posição metodológica.

O homem que sabe e sabe que sabe é sábio. Siga-o.
O homem que sabe e não sabe que sabe está dormindo. Desperte-o.
O homem que não sabe e sabe que não sabe é humilde. Ensine-o.
O homem que não sabe e não sabe que não sabe é um tolo. Fuja dele.

Mark Tier

A Roupa Nova do Rei

Em mais uma tentativa de mostrar o que significa um ismo, ocorreu-me lembrar de uma pequena estória publicada em 1873, uma estória para crianças, no entanto, com uma forte mensagem de que pensar não custa nada e se deixar levar pelas idéias dos outros, basta querer.

Era uma vez um imperador que viveu há muitos anos. Gostava tanto de roupas novas e bonitas que gastava todo o seu tempo e dinheiro a vestir-se. Não ligava importância ao exército, não ia ao teatro, não andava de carruagem por entre o povo a não ser quando queria exibir uma fatiota nova. Tinha um casaco diferente para cada hora do dia; e, tal como se ouve dizer de outros soberanos: "Está em Conselho!", no seu caso a resposta seria: "O imperador está no quarto de vestir!”.

A vida era bastante alegre na cidade em que ele vivia. Estavam sempre a chegar forasteiros, e um dia apareceram dois indivíduos com um ar suspeito que diziam ser tecelões. Mas, segundo eles, o tecido que fabricavam não só era extraordinariamente belo como tinha ainda propriedades mágicas: mesmo quando transformado em peças de vestuário, era invisível para todas as pessoas que não desempenhassem bem as suas tarefas ou que fossem particularmente estúpidas. — Excelente! — pensou o imperador. "Que bela oportunidade para descobrir quais os homens do meu reino que não devem estar nos lugares que ocupam e quais são os espertos e os estúpidos! Pois é, aquele material tem de ser tecido e transformado em roupa imediatamente!”.

— Já sei! Vou lá mandar o meu velho e honesto ministro! — decidiu. — É o homem indicado, o mais sensato possível, e ninguém pode queixar-se da maneira como desempenha as suas funções.

  Então, o bom velho ministro foi à sala onde os dois malandros estavam a fingir que trabalhavam nos teares. 

"Que Deus me ajude!" Pensou ele, abrindo os olhos cada vez mais. "Não consigo ver nada”.

Mas guardou o pensamento só para si. 

Os dois vigaristas pediram-lhe que se aproximasse; não achava ele que os padrões eram lindos e as cores deliciosas? E gesticulavam diante dos teares vazios. Mas, embora o pobre velho ministro espreitasse e olhasse fixamente, continuava a não ver nada, pela simples razão de que não havia lá nada para ver.

 "Céus!", pensou. "Serei mesmo estúpido? Nunca pensei que fosse, e o melhor é que ninguém o pense! Serei mesmo incompetente a desempenhar as minhas funções? Não, não posso dizer que não vejo o tecido”. 

— Então, não o acha admirável? — perguntou um dos falsos tecelões, continuando a mexer as mãos. — Ainda não disse nada!

— Oh, é encantador, perfeitamente maravilhoso — disse o pobre velho ministro, olhando atentamente através dos óculos. — O padrão, as cores… Sim, tenho de dizer ao imperador que os acho notáveis.

— Bem, isso é muito animador — disseram os dois tecelões, apontando-lhe os pormenores do padrão e as diferentes cores utilizadas.

O velho ministro ouviu atentamente, de modo a poder repetir tudo ao imperador. E foi o que fez.

Os dois impostores então pediram mais dinheiro e mais fio de sede e de ouro; disseram que precisavam disso para acabar o tecido. Mas tudo que lhes deram foi direitinho para os seus bolsos e nem um ponto apareceu nos teares. Apesar disso, continuaram a agitar afanosamente os braços diante das máquinas vazias.

Mais tarde, o imperador mandou outro honesto funcionário para ver o andamento do trabalho e saber se o tecido estaria pronto em breve. Aconteceu-lhe a mesma coisa que ao ministro; olhou e tornou a olhar, mas, como não havia nada para ver senão os teares vazios, nada foi tudo o que ele viu.

— Não é um belo tecido? — perguntaram os trapaceiros

E ergueram o tecido imaginário diante dele, apontando para o padrão que não existia.

"Eu acho que não sou estúpido", pensou o funcionário. "Se calhar não sou a pessoa indicada para o cargo que desempenho. Bem, nunca pensaria tal coisa! E o melhor é que ninguém o pense!"

Por isso, emitiu ruídos de apreciação sobre o tecido que não conseguia ver e disse aos homens que gostava muito das cores e do desenho.

— Sim — afirmou ao imperador —, é magnífico.

As notícias sobre aquele tecido fantástico depressa se espalharam pela cidade. E então o imperador decidiu ir vê-lo ainda nos teares. Assim, com alguns servidores cuidadosamente escolhidos — entre os quais os dois honestos funcionários que já lá tinham estado —, foi à sala de tecelagem, onde os malandros faziam as suas palhaçadas, tão ativos como sempre.

— Que tecido esplêndido! — exclamou o velho ministro.

— Veja o padrão, majestade! Observe as cores! — disse o outro funcionário.

E apontavam para os teares vazios, porque estavam certos de que as outras pessoas viam o tecido.

"Isto é terrível!", pensou o imperador. "Não vejo nada! Serei estúpido? Serei incompetente como imperador? É assustador pensar uma coisa dessas”.Então, disse em voz alta:

— Oh, é encantador, encantador! Tem toda a nossa aprovação!

Acenou com ar satisfeito para os teares vazios; nunca iria admitir que não via lá absolutamente nada.
E os cortesãos que o acompanhavam também olhavam fixamente, todos eles secretamente alarmados por não serem capazes de ver um único fio. Mas, em voz alta, fizeram eco com o imperador:

— Encantador, encantador!
E aconselharam-no a utilizar o esplêndido tecido para o novo fato real que teria de vestir num grande cortejo a realizar dentro em pouco.

— É magnífico e tão fora do vulgar… — era o que se ouvia de todos os lados.
E o imperador condecorou os dois impostores com uma roseta para porem nas botoeiras dos casacos e o título de Funcionário Imperial do Tear.

Durante toda a noite anterior ao dia do cortejo, os dois trapaceiros fingiram trabalhar, com dezesseis velas à sua volta. Toda a gente podia ver como eles estavam atarefados, tentando acabar a tempo o fato novo do imperador. Fingiam tirar o tecido dos teares, cortavam o ar com grandes tesouras de alfaiate, cosiam e tornavam a coser com agulhas sem linha. Por fim, anunciaram:

— A roupa está pronta!
O imperador foi vê-la com os seus cortesãos mais nobres, e os dois trapaceiros ergueram os braços como se estivessem a levantar alguma coisa.

— Aqui estão as calças — disseram eles. — Aqui está o casaco e aqui está a cauda… — e por aí fora. — São leves como espuma; pelo toque, dir-se-ia que não se tem nada vestido, mas a beleza está precisamente aí.
— Sim, claro… — disseram os acompanhantes do imperador, embora continuassem sem ver nada, porque não havia nada para ver.

— Se Vossa Majestade Imperial quiser fazer o favor de tirar a roupa que tem vestida, teremos a honra de o ajudar a vestir esta diante do espelho grande.

O imperador despiu-se e os dois trapaceiros fingiram entregar-lhe as roupas novas, uma peça de cada vez. Depois, com os braços à volta da sua cintura, fingiram ajustar a cauda, num toque final.

O imperador virou-se e deu uma volta em frente do espelho.

— Que elegante! Que bem que assenta! — murmuravam os cortesãos. — Que tecido tão rico! Que cores magníficas! Já alguma vez tinham visto uma coisa tão magnífica?

— Majestade — disse o mestre-de-cerimônias —, o dossel já está lá fora.
O dossel cobriria o imperador durante o cortejo.

— Bem — exclamou o imperador —, estou pronto. Assenta realmente muito bem, não acham?
E tornou a dar umas voltas em frente do espelho, como quem se admira pela última vez. Os cortesãos que tinham de pegar na ponta da cauda baixaram-se, como se erguessem alguma coisa do chão, e levantaram as mãos diante de si. Não iam deixar o povo pensar que eles não viam nada.

E assim o imperador foi caminhando no imponente cortejo, sob o esplêndido dossel, e toda a gente nas ruas ou nas janelas exclamava:
— Que ar magnífico tem o imperador! E as roupas novas… Não são maravilhosas? Olhem só para a cauda! Que elegante!
O fato é que ninguém queria admitir que não via roupas nenhumas, porque isso significaria que eram estúpidos ou então incompetentes no seu trabalho. Nenhum dos belos fatos do imperador tinha sido tão admirado até então.

Foi quando se ouviu claramente uma voz espantada de criança:

— O imperador está nu!

— Estes inocentes! As coisas ridículas que dizem! — exclamou o pai da criança.

Mas um murmúrio começou a crescer no meio da multidão:

— Aquela criança diz que o imperador está nu… O imperador está nu! E daí a pouco toda a gente repetia: — O imperador está nu!

Por fim, até o próprio imperador achou que eles deviam ter razão, mas pensou para si próprio:
"Não posso parar, senão estrago o cortejo”.

E lá foi andando com um ar cada vez mais orgulhoso, enquanto os cortesãos continuavam a segurar uma cauda que não existia.

Hans Christian Andersen

 

Estava escrito… Uma pequena estória judaica:

 

Rabi Chanina declarou no Talmude: "Uma pessoa não sofre nem mesmo um pequeno ferimento no dedo sem que isso estivesse decretado nos Céus”.

Os irmãos Rabi Elimêlech e Rabi Zussia, notáveis mestres chassídicos, impuseram sobre si mesmos o sacrifício do exílio, como expiação por seus "pecados." Vagaram de aldeia em aldeia, sobrevivendo sob as mais difíceis circunstâncias.

Certa noite fria, os dois irmãos estavam deitados em bancos numa estalagem. Alguns dos moradores locais reuniram-se para beber, e sob o efeito do álcool, começaram a cantar e dançar em um círculo. A cada vez que um dos bêbados passava pelos judeus reclinados, desferia um forte soco em Rabi Zussia.

Após vários minutos, Rabi Elimêlech disse: "Zussia, por que você recebe todos os golpes? Mereço alguns também. Vamos trocar de lugar”.Da próxima vez, quando o bêbado estava a ponto de dar um soco, seu amigo o deteve. "Por que bate sempre no mesmo judeu?" – perguntou. "Deveria golpear o outro também”.Mais uma vez, o golpe caiu sobre Rabi Zussia.

"Veja, Elimêlech" – declarou Rabi Zussia – "não se pode ser mais esperto que Deus. O que é devido a Zussia, Zussia receberá”.

Pastor Sérgio Ricardo